Das «Crónicas de Outros Tempos» de Altino Jamor:
Sempre que se realizavam os Autos da Fé em todas as grandes praças europeias, era vê-las chegar com dois ou três dias de antecedência, carregadas de sacas com carvão, pedras e sobretudo achas, que vendiam, mais para não serem presas por pedir esmola do que por comércio. As velhas gaiteiras com o seu pregão, ominoso e ao mesmo tempo jovial, que ressoava pelos becos e vielas das cidades:«Quem quer achas? Quem quer achas? Ajudem uma alminha e mandem-nos para o inferno!»
Depois era ver miúdos e graúdos, de achas na mão, rindo e cantando em torno das fogueiras, fingindo fazer pontaria aos condenados, mas acertando invariavelmente nas tonsuras dos padres caducos.
